Origamis em eras fágicas
RAH AMADO
112 páginas, 2014
ISBN 978-85-60716-11-1
Apresentação de Joel Gehlen,
prefácio de Vinícius Lopes Passos
e Ilustrações de Isabel Rolim
Ramone Abreu Amado – ou Rah Amado – trabalha como professora, parapsicóloga clínica e palestrante na área de autoconhecimento. Graduada em Letras Português / Inglês (UNIVILLE), é especialista em Língua Portuguesa (ACE), com ênfase em Literatura e Artes. Publicou o livro de poemas “Imitação de espelho” (Périplo Literário/Editora Letradágua, 2001) e integra o Grupo de Poetas Zaragata.
Vive em Joinville, Santa Catarina.
Um poema de Origamis em eras fágicas
O ANCESTRAL E O SONO
“Devo adiar minha aceitação e compreensão, e gritar a meus olhos,
Para que deixem de fitar a estrada,
E imediatamente calculem e mostrem até o menor centavo,
O valor exato de um e o valor exato de dois, e qual vai na frente?”
Walt Whitman
Intensifico minha identidade amorosa
de forma essencial e temporariamente desesperada
O preto no branco,
sem espaços para mim mesma,
amei a fenda branda na parede de ossos de um ancestral
e, desafiadoramente, senti um prazer autoritário
ao amar as três taças trincadas no momento do fim de um segredo
No lugar dos mistérios gozosos
a aparição também não-casta
da imagem irregular de Arimatéia com a menina do lago
a criar seus cânticos de sedução
na flor de lótus
Na ordem do dia
a estabilidade das causas de cão sem dono
(o abandono das minhas causas não se ajusta aos séculos
que desejei passar ao lado do deus do sono e da vigília
– estas duas purezas obtusas e de sóis primordiais,
realizadas no cotidiano resumido e nos sonhos)
Coadunar com o sono e o sumo
para que os sonhos sejam ao mesmo tempo a carne lúcida
e a sombra fina dos desejos
e para que, após o embate, mantenham o sigilo em meus olhos
quando amparados na claridade
Somente este sono me sustenta na linha do tempo
sempre abraçada a estes papéis de incesto,
ao mesmo tempo tão perto e tão longe de meus ancestrais
que levaram no destino a ira de infelicidades-farpa
Abrupta em todas as ocasiões,
e principalmente nestas ocasiões de morte violenta
que me licenciam à existência de uma identidade
que jamais se fez completa,
ambiguamente prenuncio a liturgia da extinção
do que jamais me restou
– a simples extensão de mim.